terça-feira, 3 de outubro de 2017

A REFORMA: Lutero e Cranach



A REFORMA: Lutero e Cranach

Neste mês de outubro comemoram-se 500 anos da Reforma Protestante. Foi em 31/10/1517 que Martinho Lutero afixou suas 95 teses na porta da capela de Wittenberg. As teses tratavam temas teológicos (penitências, indulgências, salvação pela fé, autoridade papal e da Igreja). Mas a Reforma influenciou diversos outros campos, incluindo política, sociologia, economia, direito, artes, educação, ciência e literatura.

Esta pintura é parte de um retábulo produzido por Lucas Cranach, o Velho, para a igreja de Wittenberg e ilustra aspectos importantes da teologia reformada.

Imediatamente se destaca a centralidade da cruz, que na teologia luterana é o conteúdo e o fundamento de tudo.

Nota-se também a sobriedade e singeleza do ambiente retratado, em contraste com a suntuosidade dos templos católicos financiados pelas indulgências.

À direita, no púlpito, vemos Lutero com uma mão sobre a Bíblia aberta, para salientar que a autoridade bíblica se sobrepõe à autoridade tradicional da Igreja, e que a pregação deve consistir na exposição fidedigna das Escrituras Sagradas.

A outra mão de Lutero aponta para Jesus Cristo crucificado, significando que a vida, morte e ressurreição de Jesus são o centro do Evangelho e devem ocupar posição central no sermão e na vida do cristão. Cristo é a encarnação da Palavra de Deus.

A ressurreição de Cristo é representada pelo pano que envolve o corpo de Jesus. O fato de estar esvoaçante mesmo num ambiente fechado indica a presença e ação do Espírito Santo: nos originais do Novo Testamento, a palavra grega “pneuma” (sopro, movimento de ar, vento) também é usada para designar o Espírito. O seu movimento vai tanto em direção ao pregador como em direção aos ouvintes, para realçar que é a terceira pessoa da Trindade que mantém a mensagem do Cristo viva e presente na pregação e na vida do povo.

Do outro lado, está a comunidade, com os olhos fixos em Cristo, e não no pregador (embora não todos). A congregação inclui a esposa de Lutero (Katharina von Bora), seu primogênito Johannes (de casaco vermelho entre as pernas da mãe), bem como o próprio Cranach (grisalho, de barba longa, próximo à parede), o que evidencia que o autor se identifica com a teologia da reforma e com a mensagem do Evangelho.

Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), 1547.
Detalhe do tríptico do altar da Igreja de Wittenberg, Alemanha.
Link para a obra:

Recomendo ainda a leitura deste interessante artigo de Elvio Nei Figur, que muito me ensinou sobre a relação Lutero-Cranach, “A Reforma Protestante e a propaganda religiosa: pinturas de Lucas Cranach, o velho”, disponível aqui: https://www.academia.edu/19785973/A_Reforma_Protestante_e_a_propaganda_religiosa_pinturas_de_Lucas_Cranach_o_velho


Abaixo, foto do tríptico completo. A imagem objeto da postagem é a que está embaixo. Os painéis superiores, todos de Lucas Cranach, retratam, da direita para a esquerda: o sacramento do Batismo, a Última Ceia (remetendo ao sacramento da Santa Ceia), e um ato de confissão pública (com um crente arrependido de seus pecados, de joelhos, e uma pessoa que não se arrepende, dando as costas e caminhando para longe):






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