A REFORMA: Lutero e Cranach
Neste mês de outubro comemoram-se 500 anos da Reforma Protestante. Foi em 31/10/1517 que Martinho Lutero afixou suas 95 teses na porta da capela de Wittenberg. As teses tratavam temas teológicos (penitências, indulgências, salvação pela fé, autoridade papal e da Igreja). Mas a Reforma influenciou diversos outros campos, incluindo política, sociologia, economia, direito, artes, educação, ciência e literatura.
Esta pintura é parte de um retábulo
produzido por Lucas Cranach, o Velho, para a igreja de Wittenberg e ilustra aspectos
importantes da teologia reformada.
Imediatamente se destaca a
centralidade da cruz, que na teologia luterana é o conteúdo e o fundamento de
tudo.
Nota-se também a sobriedade e
singeleza do ambiente retratado, em contraste com a suntuosidade dos templos
católicos financiados pelas indulgências.
À direita, no púlpito, vemos Lutero
com uma mão sobre a Bíblia aberta, para salientar que a autoridade bíblica se
sobrepõe à autoridade tradicional da Igreja, e que a pregação deve consistir na
exposição fidedigna das Escrituras Sagradas.
A outra mão de Lutero aponta para
Jesus Cristo crucificado, significando que a vida, morte e ressurreição de
Jesus são o centro do Evangelho e devem ocupar posição central no sermão e na
vida do cristão. Cristo é a encarnação da Palavra de Deus.
A ressurreição de Cristo é
representada pelo pano que envolve o corpo de Jesus. O fato de estar esvoaçante
mesmo num ambiente fechado indica a presença e ação do Espírito Santo: nos
originais do Novo Testamento, a palavra grega “pneuma” (sopro, movimento de ar,
vento) também é usada para designar o Espírito. O seu movimento vai tanto em
direção ao pregador como em direção aos ouvintes, para realçar que é a terceira
pessoa da Trindade que mantém a mensagem do Cristo viva e presente na pregação
e na vida do povo.
Do outro lado, está a comunidade, com
os olhos fixos em Cristo, e não no pregador (embora não todos). A congregação
inclui a esposa de Lutero (Katharina von Bora), seu primogênito Johannes (de
casaco vermelho entre as pernas da mãe), bem como o próprio Cranach (grisalho,
de barba longa, próximo à parede), o que evidencia que o autor se identifica
com a teologia da reforma e com a mensagem do Evangelho.
Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), 1547.
Detalhe do tríptico do altar da Igreja de
Wittenberg, Alemanha.
Link para a obra:
Recomendo ainda a leitura deste
interessante artigo de Elvio Nei Figur, que muito me ensinou sobre a relação
Lutero-Cranach, “A Reforma Protestante e a propaganda religiosa: pinturas de
Lucas Cranach, o velho”, disponível aqui: https://www.academia.edu/19785973/A_Reforma_Protestante_e_a_propaganda_religiosa_pinturas_de_Lucas_Cranach_o_velho
Abaixo, foto do tríptico completo. A imagem
objeto da postagem é a que está embaixo. Os painéis superiores, todos de Lucas
Cranach, retratam, da direita para a esquerda: o sacramento do Batismo, a
Última Ceia (remetendo ao sacramento da Santa Ceia), e um ato de confissão
pública (com um crente arrependido de seus pecados, de joelhos, e uma pessoa
que não se arrepende, dando as costas e caminhando para longe):